Ela abordou a mãe de uma criança que estava sendo atendida por um aluno no hospital universitário e perguntou se estava tudo bem; em seguida, afirmou estar preocupada porque o atendimento era prestado por uma pessoa preta
A professora Regina Coeli de Carvalho Alves, de 67 anos, que dá aulas na UnB (Universidade de Brasília), foi indiciada pela Polícia Civil do Distrito Federal na terça-feira, 10, pelo crime de injúria racial.
Ela abordou a mãe de uma criança que estava sendo atendida por um aluno no hospital universitário e perguntou se estava tudo bem; em seguida, afirmou estar preocupada porque o atendimento era prestado por uma pessoa preta, segundo relato da vítima. No âmbito istrativo, a UnB informou que uma sindicância já foi concluída e agora vai ser instaurado um processo istrativo disciplinar sobre o caso.
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Até a publicação deste texto, a reportagem do Estadão não havia conseguido localizar a defesa de Regina.
A conversa ocorreu durante um atendimento prestado pelo estudante universitário Thiago Costa no Hospital Universitário da UnB no dia 22 de maio. Regina é professora adjunta do curso de Nutrição, onde leciona duas disciplinas, e acompanhava o desempenho de Costa.
"Ela (a professora) perguntou como estava meu atendimento, e a mãe falou 'Tá tudo certo, já sou acompanhada por ele'. Ela: 'Porque eu fico um pouco preocupada com vocês, os pacientes sendo atendidos por pessoas como ele'. Aí eu perguntei: 'Como assim como ele?' E ela: 'Você conhece aquele outro aluno que é preto, preto igual você? Porque eu fui racista com ele, julguei ele errado, pelo que entendi ele era um bom aluno, apesar de ser preto'", narrou o estudante à TV Globo. Essa versão é confirmada pela Polícia Civil.
"A mãe da criança perguntou 'Por que você não fez nada?' Ela entendeu antes de mim, até, demorei pra refletir, porque a ficha não cai que isso está acontecendo com a gente, até o momento", contou Costa.
Incentivado pela mãe de seu paciente, o estudante denunciou o caso à Polícia Civil. A Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual, ou Contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin) ou a investigar o episódio.
Segundo a Polícia Civil, a professora afirmou em depoimento ter havido um mal-entendido e negou ter praticado crime. No entendimento do delegado, porém, ela cometeu injúria racial.
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Agora, o inquérito será analisado pelo Ministério Público, que pode denunciar a mulher à Justiça, pedir mais investigações ou arquivar o caso. Se condenada, a professora pode pegar até cinco anos de prisão.
Em nota, a UnB afirmou que "tão logo tomou conhecimento do caso, adotou ações imediatas para acolhimento do estudante e encaminhamento da situação. A sindicância no âmbito do HUB foi concluída, e a UnB instaurará o processo istrativo disciplinar para encaminhamento do caso".
A nota destaca ainda que a UnB "repudia qualquer forma de racismo e reitera seu compromisso com a promoção da igualdade, dos direitos humanos e de um ambiente universitário respeitoso, seguro e inclusivo para todas as pessoas".
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