Influenciadora detalha agressões sofridas, negligência do sistema e ameaças constantes: 'Esconder o que vivi só deu força ao que ele fez'
Aos 25 anos, a influenciadora e ativista Laura Sabino viu sua vida virar do avesso após um episódio de violência extrema dentro da própria casa. Meses após sobreviver a um ataque a facadas e uma tentativa de homicídio cometido pelo irmão, ela decidiu tornar pública sua história — não por escolha, mas por necessidade.
“Entendi que manter segredo só alimentava o silêncio que protege quem nos machuca”, escreveu Laura em sua conta no X (antigo Twitter), ao anunciar a publicação de um vídeo em seu canal no YouTube em que detalha o episódio e as marcas físicas e emocionais que carrega desde março.
O crime aconteceu em 14 de março, em Belo Horizonte. Laura foi surpreendida dentro de casa, enquanto estudava, quando o irmão pulou o muro da residência, pegou duas facas e a esfaqueou nove vezes. Em seguida, tentou incendiá-la com álcool em gel.
Ela sobreviveu. Sangrando, conseguiu correr e pedir ajuda. A cena, que durou cerca de 20 minutos, foi apenas o desfecho de um histórico de ameaças e perseguições ignoradas pelo sistema de proteção.
Laura já havia registrado cinco boletins de ocorrência, conseguido uma medida protetiva e até relatado as ameaças em uma audiência pública sobre violência de gênero. A medida judicial foi expedida poucos dias antes do ataque, mas a intimação só chegou depois.
Ela também estava vinculada ao Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, mas nenhuma dessas ferramentas impediu o agressor — que, mesmo com histórico de comportamento violento, circulava livremente.
Pouco antes do crime, uma onda de desinformação alimentou ainda mais o clima de tensão. Um boato envolvendo seu nome viralizou nas redes sociais, atribuindo falsamente a ela envolvimento com drogas e maus-tratos — algo que nunca ocorreu. O irmão, durante o ataque, usou exatamente essas falsas acusações para justificar a violência.
Em mensagens anteriores ao crime, ele já a havia chamado de “vagabunda” e “vergonha da família”. Áudios revelam que o plano de matá-la incluía também expectativas de herança e ressentimentos pessoais, e não apenas um “impulso emocional”, como chegou a alegar.
O irmão de Laura foi preso em flagrante e aguarda julgamento. A Defensoria Pública de Minas Gerais ainda não designou oficialmente um defensor para o caso. Apesar de tentativas da família de buscar tratamento psiquiátrico para ele, esbarrou-se na precariedade da rede pública e nos altos custos do setor privado.
Mensagens atribuídas ao agressor revelam alinhamento com discursos de ódio frequentemente disseminados contra Laura nas redes, com teor misógino, homofóbico e político.
Ao decidir contar sua versão, Laura não busca apenas justiça, mas quer transformar o horror que viveu em alerta. “Contar o que vivi não é sobre expor minha dor. É sobre impedir que ela se repita com outras pessoas”, afirmou.
Ela segue se recuperando ao lado de amigos e familiares que a acolheram. A militante reforça que está segura, mas alerta que as ameaças ainda não cessaram.
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