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Pesquisa aponta crescimento de 360% nas postagens com ameaças a escolas

Estudo da Timelens mostra que 21% dos comentários hostis nas redes sociais exaltam a postura dos agressores

Da Redação
11/06/2025 | 14:08
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FOTO: Joedson Alves/Agência Brasil


Pesquisa realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em parceria com a empresa de monitoramento Timelens, revela crescimento de 360% no número de postagens com ameaças a escolas nas principais redes sociais utilizadas no Brasil entre 2021 e 2025. Até 21 de maio deste ano já somam mais de 88 mil.

Para efeito de comparação, em todo o ano de 2024 foram contabilizadas 105.192 postagens ameaças a escolas, enquanto em 2021 esse número mal ultraava 43.830 — um salto que evidencia a urgência de ações coordenadas para conter essa escalada.

O estudo Aspectos da Violência nas Escolas Analisados a partir do Mundo Digital, buscou entender como as plataformas digitais têm lidado com ataques violentos às escolas e como temas como o bullying são abordados no ambiente online. De acordo com os dados, em 2023, 90% dos conteúdos com discurso de ódio estavam s à Deep Web — a parte da internet que não é indexada por mecanismos de busca convencionais. No entanto, em 2025, essa proporção caiu para 78%, indicando que mensagens violentas e ameaçadoras aram a circular de forma mais aberta e sem filtros na web tradicional.

A pesquisadora sênior Manoela Miklos, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, chama a atenção para o aumento da violência contra meninas e mulheres no ambiente digital, e ressalta a necessidade de compreender a realidade vivida pelos adolescentes. “Diferente das gerações anteriores, não existe separação entre o mundo online e o offline — é uma vida só, híbrida. Se não compreendermos essa experiência, não conseguiremos criar respostas eficazes para protegê-las”, afirma. Segundo Miklos, enfrentar esse cenário exige responsabilidade compartilhada entre Estado, escolas, famílias e sociedade.

Outro dado preocupante do levantamento aponta para o crescimento da iração por agressores. Em 2011, ano do massacre de Realengo (RJ), apenas 0,2% dos comentários exaltavam os autores dos ataques. Em 2025, esse índice saltou para 21%. A maioria dos elogios se concentra em jovens que teriam reagido com violência após sofrer consequências emocionais e psicológicas do bullying.

Além disso, o estudo da Timelens mostra que 21% dos comentários hostis nas redes sociais exaltam a postura dos agressores, como se esses comportamentos merecessem aprovação. Esse cenário revela uma “raiva silenciosa” cada vez mais negligenciada pelas plataformas digitais. O levantamento também mostra que a vitimização por cyberbullying afeta igualmente meninos e meninas (12% em ambos os casos), mas os meninos são mais propensos a praticar agressões: 17% itiram comportamento ofensivo online, em comparação a 12% das meninas — um desequilíbrio preocupante na dinâmica entre ataque e defesa entre os jovens.

Para Renato Dolci, diretor de dados da Timelens, a violência digital deixou de ser exceção e ou a fazer parte do cotidiano. Ele destaca que não se trata apenas de uma tendência, mas de um novo ecossistema, onde meninos solitários, hiperconectados e emocionalmente vulneráveis encontram nas redes um caminho que começa com acolhimento e termina na radicalização. “Quando o algoritmo substitui o afeto e a escuta, o risco deixa de ser virtual”, alerta. Segundo Dolci, a violência prospera porque encontra audiência, linguagem, recompensa e impunidade. “Os jovens não estão apenas consumindo conteúdo — estão formando identidade em espaços que valorizam o exagero e a exclusão.”

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SEXUALIZAÇÃO

O estudo também analisou o impacto da sexualização precoce. Entre estudantes do 9º ano, a proporção de meninas que já tiveram relação sexual subiu de 19% em 2015 para 22,6% em 2019. Entre os meninos, houve uma leve queda, de 35% para 34,6%, o que gera uma pressão adicional para que eles "acompanhem" as experiências das colegas. Além disso, 95% das meninas afirmam ter ao menos um amigo próximo com quem podem desabafar — número que cai para 85% entre os meninos. Menos da metade de todos os estudantes se dizem satisfeitos com sua própria imagem corporal.

Segundo o levantamento, a combinação de ameaças abertas, glorificação da violência e falta de apoio emocional está comprometendo a segurança e o bem-estar de milhares de adolescentes. A necessidade de ações integradas que envolvam escolas, famílias, plataformas digitais e o poder público nunca foi tão urgente.

O pesquisador Cauê Martins, também do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, destaca os esforços do Ministério da Educação para enfrentar esse cenário, com o programa Escola que Protege. A iniciativa operacionaliza o Sistema Nacional de Acompanhamento e Combate à Violência nas Escolas (SNAVE), criado pela Lei nº 14.643/2023.

“O programa se estrutura em três eixos: produção e difusão de conhecimento sobre convivência escolar; resposta imediata com apoio psicossocial às comunidades afetadas; e incentivo a práticas que promovem a cultura de paz”, explica Martins. Ele destaca ainda que a integração entre dados, políticas públicas e ações interministeriais — envolvendo MEC, MJSP, MDHC e Polícia Federal — tem sido fundamental para prevenir episódios extremos e combater a atuação de grupos extremistas nas redes.




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