O café é consumido regularmente em quase todo o mundo e embora sabor e aroma sejam as bases de sua sedução, são suas propriedades estimulantes, especialmente para o desempenho mental, que motivam seu consumo para além do paladar e olfato.
Incontáveis estudos sugerem que seus componentes cedam muitos benefícios com sua ingestão frequente, fornecendo efeito protetivo contra demência, Parkinson, diabetes tipo 2, doença hepática crônica, câncer e tantas outras.
É natural que imaginemos que esses impactos de proteção sejam majoritariamente resultantes da cafeína, porém, são muitos os compostos do café capazes de entregar essas vantagens.
Contudo, é decorrente da cafeína o indesejável comprometimento do sono, desenlace que envolve o bloqueio dos receptores cerebrais de adenosina, composto naturalmente produzido em nosso corpo enquanto estamos acordados e providencial para a indução do sono.
Quanto mais extenso o período que estivermos acordados, maior o acúmulo de adenosina e mais intensa a sensação de cansaço e sonolência, mas este processo pode ser bem atrapalhado pela cafeína, o que justifica encerrar suas ingestões entre 4 e 6 horas antes de ir para a cama.
Em um artigo publicado em abril deste ano na revista científica Nature Communications Biology, pesquisadores da Universidade de Montreal lançaram nova perspectiva nesse tema.
Com a utilização de um eletroencefalograma foram registradas as atividades cerebrais de 40 participantes, comparando o sono precedido pelo consumo de 200 mg de cafeína com aquele que essa substância não foi ingerida.
Os resultados foram surpreendentes, pois, ao menos neste ensaio, ficou demonstrado que a cafeína não interfere apenas na deflagração do sono, mas aumenta também a complexidade dos sinais cerebrais, refletindo uma atividade cerebral muito mais dinâmica e menos previsível, próximo ao desempenho cerebral máximo do período de vigília, ainda que o indivíduo esteja dormindo.
Em outro achado interessante foi visto que estas alterações foram mais evidentes em adultos jovens entre 20 e 27 anos, quando comparados com aqueles de meia-idade entre 41 e 58 anos.
Dado o exposto é possível dizer que o café possa, ou talvez deva, ser consumido com frequência por aqueles que não possuam contraindicações, devendo respeitar boas horas de distância do pretendido descanso!
Antonio Carlos do Nascimento é doutor em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP e membro da Sociedade de Endocrinologia e Metabologia.
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